segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Design de bicicletas: função ou estética?

O texto abaixo foi escrito pelo meu irmão, Rômulo. Há uns anos atrás engatamos em uma conversa acerca desse assunto, eu havia lido um texto sobre a evolução do design de bicicleta, e como o Rômulo é um apaixonado por bikers começamos um papo que durou horas...o interessante é que ele além de grande conhecedor do universo das bicicletas, também as utiliza como ciclista e triatleta, além de saber montar uma de olhos fechados, então segue o texto dele.





Quando eu era garoto, tive contato com alguns esportes que até hoje me motivam em muitas coisas , o triatlo e o ciclismo me chamaram muito a atenção principalmente por causa do material e desenho utilizado nas bicicletas. No final dos anos 80 e início dos 90 tínhamos bicicletas volumosas, julgavam-se permanentes, que nunca sairiam de moda.Mas isso era devido ao seu desenho inovador, em sua maioria feitas em fibra de carbono,Tínhamos várias marcas apostando nesse “novo” conceito, pois bem, após essa
Empolgação - já que as bicicletas não “funcionavam” satisfatoriamente - muitos críticos e especialistas criticavam muito essa postura pois se dizia que quem as fabricavam estavam procurando com a estética sem se preocupar com a performance ou conforto.

As equipes profissionais não adotaram essas “dream bikes” e as vendas despencaram e elas simplesmente pararam de serem fabricadas e isso reforçou algumas marcas que não se renderam a essa tendência e afundaram algumas que apostaram “tudo” nisso. Em meados dos anos 90, um material utilizado até então com muita freqüência e muito sucesso era o Aço (cromo-molibidênio), porém pouco maleável e nada atrativo
esteticamente, dava espaço a materiais como titânio e alumínio que com muito estudo se chegava a um patamar mecânico que duraria no mínimo uma década de hegemonia.
Tubos redondos em gota , hidroformados (mais recente) , no início dos anos 2000
todo pelotão profissional de ciclismo e triatlon usavam esse material porém sem muitas novidades estéticas. Assim como o titânio sendo um material muito caro e de qualidades mecânicas difíceis de serem trabalhadas era deixado um pouco para trás
por grande quantidade de fabricantes.
Então chegamos ao verdadeiro “significado” disso tudo, de 2004 pra cá vemos o ressurgimento da fibra de carbono e suas formas maravilhosas, hoje em dia temos muitos tipos de malha de fibra, a nanotecnologia está sendo empregada em todo esse processo, hoje 100% das marcas competitivas tem pelo menos um modelo desse material em sua linha.
Diante desses dados históricos, proponho alguns questionamentos, para uma reflexão:

1)Esses designs inovadores seriam um novo apelo das fábricas para as vendas explodirem de novo ?
2)E a usabilidade como fica nisso tudo ?
3)Ou seria um “fetishe” usar uma bike de última geração ?
4)E as fábricas que não se rendem a esse “design inovador” ?
5)Qual o papel do design desse caso, inovador ou sedutor ?

Não querendo induzir ninguém, mas provocar o debate, as minhas respostas seriam:

1 , Das empresas grandes e que tem um trabalho reconhecido, não acredito no apelo
Somente , o que acho é que empresas com menos nomes pegaram carona e lançaram bikes realmente muito bonitas e oferecendo o que o cliente precisa mas se paga um preço alto e não se sabe se funcionará bem , seria uma releitura da década de 80/90 ?
2, Não vejo sentido no design sem ser usual , na minha humilde opinião as coisas tem que andar junto , não digo em relação ao mercado, mas sim em relação mecânica .Existem marcas que unem isso tudo ? Sim existem.
3, Também é .
4 , Quem não se rendeu é porque tem algo muito melhor a oferecer, o grande exemplo disso é a fábrica italiana Colnago , que segue o desenho de sua “top bike” desde sua criação pelo mestre Ernesto Colnago desde 1932 , fez sua primeira bicicleta de fibra de carbono em 1989 em parceria com a Ferrari um projeto que começou em 1986 , e apenas 3 gerações , poucas mudanças e sempre tubos redondos e finos , com alguns detalhes é claro , dizem que para 2009 está saindo do forno sua primeira bicicleta da linha racing com tubos ovais para contra-relógio.É aguardar.
5, essa é pra vocês responderem...

Rômulo Sarmento Nogueira

6 comentários:

Gustavo Scatena disse...

Muito gostosa essa discussão.
Vou puxar um pouco a sardinha pro meu lado pra fazer uma comparação.
No mundo automotivo, o que menos se vê hoje em dia é o Design. ao invés disto, o que predomina no mercado é o Estilo, tanto que algumas empresas não possuem um centro de Design e sim, de Estilo. A linha adventure da Fiat é um exemplo de Estilo X Design, carros com apelo off-road mas que, num asfalto mais sujinho já demonstra que era apenas um apelo estético e não funcional.
Penso que o mercado de bicicletas está tomando um caminho parecido, mesmo porque, em cidades com trânsito caótico como o de São Paulo, é perceptível algumas mudanças de comportamentos como pessoas que utilizam bicicletas como meio de transporte e não mais de lazer. Como a maioria das pessoas que possuem uma bicicleta, não entendo nada (ou quase nada) deste mundo, portanto, um apelo estético neste caso pode ser um diferencial na hora da compra.
Acho que é por aí, não acho legal vender gato por lebre mas, tem consumidor pra isso. Já os profissionais sabem o que estão comprando e não cairão em linhas "adventures" caso queiram fazer um Rally dos Sertões.

Anônimo disse...

Design e estilo não deveriam andar juntos ?
Se você estiver um produto para um estilo "X" se ele tiver desgin diferenciado , faz vantagem em relação aos outros , ou não ?
Isso é pergunta de leigo!!!!
rsrsrs

Gustavo Scatena disse...

Sim, o estilo está dentro do design. Mas quando não se pode desenvolver o design de modo completo em um produto, fica-se só com o estilo, é mais fácil, rápido, barato e também vende!
Quando se lança uma nova geração de um carro (Gol por exemplo), modifica-se só o estilo, a funcionalidade continua a mesma (muitas vezes ineficiente).

designetudomais disse...

parece que estilo é apenas uma maquiagem..será? tenho dificuldade de dessassociar o estilo ao design, penso que uma das atribuições de um design não é somente criar algo funcional, mas hoje mas do que nunca o design cria desejo, as pessoas compram desejo, as pessoas não querem um tocador de mp3 , elas querem um ipod.Acho uma discussão interessante...no universo da bicicleta acescenta aí um problema, a busca de algo que se chama bicicleta mas que em nada tenha a ver com a bicicleta,kkk...exite claramente uma agonia entre os designers desse segmento, elas mudam, mudam, mas não mudam em sua essência, acho que no caso das bicicletas só mudam o estilo, mas quem cria este estilo?será que não é o designer? entendo a colocação do gustavo e seu exemplo do centro de estilo, acho que passamos por uma nova realidade, alguns designers agora se intitulam criativos, que eu acho um nome bem melhor...acho que a nomenclatura não importa, o que importa é pensarmos que o design está inserido em um processo de consumo da pós modernidade, onde se paga muito pelo sonho, pelo desejo, pelo fetiche.

Gustavo Scatena disse...

Sim, não acho que quem faça "estilo" não seja designer... talvez estejamos passando por uma certa mudança no conceito das funcionalidades! hehehehe..
A funcionalidade mecânica, todos os componentes funcionando de forma correta para um determinado objetivo durante um certo tempo talvez não seja mais o foco do consumidor.. e sim algo como "funcionalidade intrínseca", algo que funcione para que eu chegue próximo do meu desejo, fetiche, que me satisfaça como consumidor de sonho que sou. Não chamaria isso de arte, aí entraríamos em outra discussão.. que aliás.. é uma discussão mto gostosa tbm.. mas deveria ser acompanhada de uma cervejinha!
hahahahahah

Anônimo disse...

Opa !!!
Funcionalidade mecânica , talvez chegou onde eu queria...os projetitas de bike hoje (ou designers?)tentam aliar a essa funcionalidade com o desejo , talvez isso seja um pouco de estilo ou não? Acho que não, quando se tem uma diferença mecânica e de comportamento do produto , que no caso aqui é bicicleta mas acho que pode se passar para o carro também...
Exemplos:Bike de Contra Relógio x Bike de Ruta( isso mesmo RUTA )
são duas bicicletas completamente diferentes em funcionalidades porém não dexam de ser bicicletas ,prq elas não podem parecer umas com as outras ?Por causa da funcionalidade mecânica.
Cada uma com suas peculiaridades.
Quando se diz que só cria estilo não concordo , pois existe um funcionamento mecânico que não está incluso nessa afirmação.
Já usei 2 bicicletas com mesma angulação , mesmo material porém com comportamentos diferentes, uma talvez mais estilosa doque a outra e o dobro do preço uma da outra e por incrível a mais barata e menos atraente era melhor , será que foi largado a qualidade mecânica pelo estilo ?
Não sei , pode ser...mas a mais cara era que o "Gringo" usava , íh!!! aí volta lá no desejo né ?
kkkkkkkkkkkkkk...